terça-feira, 28 de agosto de 2012

As 15 horas de pavor do gerente do Banco do Brasil sequestrado em Florianópolis


Polícia busca pistas de quadrilha que rendeu bancário e funcionários de agência

 - Ainda estou assimilando tudo o que aconteceu.



Cabisbaixo, abatido e em apenas uma frase, o gerente do Banco do Brasil na Lagoa da Conceição, em Florianópolis, resumiu a razão que o levaria a ficar em silêncio e a não querer relembrar as 15 horas de terror que viveu nas mãos de bandidos.
De terno, ao lado do advogado do banco, o gerente, que pediu para não ser identificado, conversou rapidamente com o DC na saída da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic), no Estreito, no começo da noite de sexta-feira.
Passava das 18h e o funcionário havia prestado depoimento de mais de duas horas ao delegado Anselmo Cruz, na tentativa de trazer à polícia os detalhes que possam levar à prisão da quadrilha que o sequestrara na noite de quinta-feira.
O gerente havia passado a noite em poder de assaltantes em um quarto da Pousada do Lima, na Rua Osni Ortiga, onde mora há dois meses, na Lagoa. Além da ameaça de armas, os bandidos o amedrontaram psicologicamente, prendendo uma suposta bomba em sua cintura desde o momento em que foi rendido. Vigiado de perto durante à noite toda, o gerente não conseguiu dormir.
De manhã, foi levado para a agência, onde os bandidos pegaram o dinheiro do cofre e também dos caixas eletrônicos. Estima-se que tenham roubado R$ 500 mil. Fugiram pelo morro da Lagoa, em direção ao Centro, passando por câmeras de vigilância. Apesar disso, conseguiram escapar, pois a polícia demorou para ser acionada.
O sequestro seguido de roubo chamou a atenção por ter ocorrido justamente no dia em que a polícia anunciou a prisão, no Rio Grande do Sul, do assaltante de bancos Enivaldo Farias, o Cafuringa. O criminoso é especialista nesse tipo de crime e a sua quadrilha cometeu este ano assaltos semelhantes em Içara, Sombrio e Forquilhinha, no Sul catarinense. Ainda há integrantes do grupo que estão foragidos.
Para a polícia, a quadrilha que atacou na Lagoa não é da Grande Florianópolis, pois esse modo de agir, de vigiar antecipadamente os alvos do banco, não é comum na região. Um dos ladrões apresentava sotaque baiano.

O bando agiu mais com a intimidação, em relação às bombas, do que com violência. Na hora de colocar o suposto explosivo no corpo do gerente, simulavam que poderia explodir e a prenderam devagar. Na hora de retirá-la do corpo, puxaram com força.
A BOMBA
Dois tubos de PVC fechados por durepox e com fios de cores diferentes amarrados a um celular eram a suposta bomba usada pelos bandidos no banco como ameaça de mandar para tudo para os ares caso chamassem a polícia. O suposto artefato foi desativado de manhã, na agência. Depois de perícia, à noite, foi levado para a Deic. O delegado Anselmo Cruz disse que não havia explosivos, mas, na verdade, da simulação de uma bomba e, em hipótese alguma, poderia haver detonação, muito menos à distância.
A VÍTIMA
O gerente não é de Florianópolis e estaria há dois meses na função, na agência da Lagoa. Ele estava em seu Fiat Uno quando foi rendido, na frente da pousada. Os bandidos o seguiam num carro, mas no portão havia uma moto com outros assaltantes esperando por ele. A polícia acredita que ele teve a rotina monitorada pela quadrilha, assim como outros funcionários do banco. Os bandidos usavam essas informações para amedrontá-los e ameaçá-los.
A QUADRILHA
Para a polícia, a quadrilha não é da Grande Florianópolis, pois esse modo de agir não é comum na região. Um dos ladrões apresentava sotaque baiano. O bando agiu mais com a intimidação, em relação às bombas, que com violência. Na hora de colocar a suposta bomba no corpo do gerente, fizeram teatro a prendendo devagar e fingindo que poderia explodir. Na hora de retirá-la do corpo, puxaram com força.
A INVESTIGAÇÃO
Imagens de câmeras da Polícia Militar nas ruas estão com a Deic para a investigação. A principal, na rua do banco, pode não ter flagrado muita coisa porque foca vários pontos simultaneamente. Policiais experientes ouvidos pelo DC não descartam que o bando tenha tido informação privilegiada. Outros policiais lamentaram a demora do banco em avisar a polícia depois que os ladrões fugiram.
A POUSADA
O local em que os bandidos ficaram a noite com o gerente passou o dia com o portão fechado. O DC esteve na pousada, à tarde. A funcionária que atendeu disse que não sabia de nada. Em contato com à polícia, a reportagem foi informada que não seria permitida a entrada da reportagem nem dadas informações no lugar. O ambiente é discreto, com os dormitórios distantes da rua Osni Ortiga. Vizinhos disseram que visitantes têm dificuldade em comunicar-se com alguém dentro porque na fachada não há campainha. É preciso telefonar para que alguém venha ao encontro.

COMO FOI
1) No início da noite de quinta-feira, às 19h, o gerente é abordado por dois homens quando chegava à pousada onde mora, na Rua Osni Ortiga, via que margeia a Lagoa da Conceição. Os três entram no apartamento onde mora há dois meses, desde que chegou a Florianópolis. Pouco depois, um dos homens vai embora, deixando o gerente sob a vigilância do comparsa armado.
2) Com uma suposta bomba amarrada à cintura, o gerente passa a noite toda acompanhado do bandido e sob a mira de um revólver. O artefato era formado por dois tubos de PVC com fios ligados a um telefone celular.
3) Por volta de 7h30min de sexta-feira, o gerente e o bandido saem da pousada e, no carro do bancário, seguem até a agência do Banco do Brasil na Lagoa. Os bandidos obrigam o gerente a abrir as portas da agência para o grupo.
4) Conforme vão chegando para trabalhar, os funcionários da agência vão sendo rendidos pelos bandidos. Cerca de 10 são feitos reféns, inclusive o vigia. Enquanto esperam pela abertura automática do cofre da agência, os ladrões aproveitam para pegar o dinheiro dos caixas eletrônicos. Eles também colocam sobre uma das mesas um artefato que seria uma bomba, para intimidar os funcionários. Horas mais tarde, a polícia aponta que era uma falsa bomba.
5) Às 9h20min, o cofre abre automaticamente e os bandidos passam a retirar o dinheiro. O Banco do Brasil não confirmou oficialmente, mas funcionários afirmam que havia cerca de R$ 500 mil dentro do cofre. O bando leva tudo que havia no local.
6) Os bandidos retiram a suposta bomba que estava amarrada à cintura do gerente, tomam outro funcionário como refém. Ele é colocado no porta-malas do seu próprio carro, que é usado na fuga pelos bandidos. Os ladrões seguem com o carro e o refém até o Morro da Lagoa da Conceição, onde param e abandonam o veículo.
7) Outro carro passa pelo local e pega os ladrões, que somem sem deixar pistas. O funcionário consegue sair do porta-malas e dirige o carro até a agência do Banco do Brasil no Bairro Trindade, onde avisa sobre o assalto.
Fonte: Diário Catarinense 


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